carta para jullie

  Cartas para Jullie
      Era um feriado prolongado. Estávamos indo viajar para a nossa casa de praia. Tudo por causa do meu aniversário de 18 anos. Meus pais, exagerados como sempre, não deixariam essa comemoração tão especial, como eles diziam, passar a limpo. Duas horas e meia da nossa cidade, a casa da praia era praticamente minha infância.
-Olha o balanço, filha! - dizia minha mãe apontando super animada para um balanço que estava pendurado em um tronco da árvore. Aquela árvore, nas minhas lembranças, era enorme! Normal, a gente cresce, e as coisas que achávamos gigantes na infância passam a ser pequenas.
-Não vai brincar, princesa? - meu pai perguntou brincando.
-Não pai, acho que estou bem grandinha para isso! - dei uma risadinha só de pensar que meus pais ainda não tinham se acustumado que eu faria 18 amanhã.
     Entramos na casa de madeira e vidro que eu tanto amava. Joguei minhas malas do lado da escada e fui correndo ver meu quarto. Não sei direito o que senti, mas eu amava aquele lugar. A mesma vista para a piscina e logo atrás o mar, os mesmos moveis de madeira, a mesma decoração de casa da praia... Me joguei na cama e adormeci.
     Acordei no dia seguinte, e como de costume fui ver que horas eram. Estava cedo. Me levantei, fui para o banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes e coloquei uma roupa de correr. Fui até a cozinha e comi uma fruta. Prendi o cabelo, peguei o meu iPod e fui correr na praia. Meu hobbie favorito era correr. Melhor ainda na praia, cedinho, com essa brisa e esse solzinho. Corri até não aguentar mais e voltei para casa.
-Bom dia amor! - disse minha mãe, preparando o café da manhã. - Foi correr?
-Bom dia mãe, fui sim! A senhora sabe que eu amo correr. Bom dia pai! - disse indo para as escadas.
-Bom dia filhota! - como sempre, ele estava lendo o jornal. - Hoje teremos uma festa aqui! Chamei meus amigos daqui, e os filhos deles vem junto! Lembra dos seus amiguinhos? Você vivia brincando com eles! Agora estão crescidos como você!
-Legal! - subi para o meu quarto.
     Não é que eu não quisesse tudo isso, mas eu preferiria comemorar de outro jeito. Tomei um banho de água gelada e desci para tomar o café. Depois do café, eu não parei mais! Preparativos para a festa, compras, arrumação... Faltava meia hora para a festa, e eu comecei a me arrumar. Vesti um vestido leve, uma sapatilha e prendi meu cabelo em um rabo alto. Passei uma maquiagem básica e desci. Nisso, alguns convidados haviam chegado.
-Filha, esses são Catherine e Ryan, meus amigos, e esse é Justin, filho deles. - disse meu pai todo animado
-Oi, prazer, Jullie! - cumprimentei os dois, com um beijo no rosto. Quando fui cumprimentar Justi, finalmente pude perceber como ele era: alto, cabelos castanhos, olhos cor de mel, feições delicadas e um sorriso lindo.
     Os convidados foram chegando e a casa já estava cheia. Mais com amigos dos meus pais mas enfim, era minha festa. Me sentei em um grupinho de garotas. Ficamos conversando até que sinto alguém tocando no meu ombro. Me viro e me deparo com Justin, sorrindo.
-Oi, precisa de alguma coisa? - perguntei confusa
-Sim, preciso! - ele deu uma risadinha e depois colocou a mão na cabeça, meio envergonhado. - Quer dar uma volta na praia comigo?
-Ér, claro! Vamos! - disse me levantando
-Deixa que eu te ajudo! - ele me estendeu a mão e me ajudou a levantar
     Arrumei a roupa, o cabelo e fomos caminhando. Estava um silêncio mortal e eu não estava me sentindo muito bem com aquilo. Estava confusa. Porque Justin queria dar uma volta na praia comigo?
-Jullie, ainda está ai? - disse Justin olhando para a minha cara. Tomei um susto!
-Nossa, me desculpe! Estava perdida nos pensamentos!
-Sem problemas, continua a mesma!
-Como assim, "continua a mesma?" - perguntei confusa. Continua a mesma? Eu conheço ele?
-É, como eu esperava! Você não se lembra! - ele disse olhando para o mar, com as mãos no bolso
-Esperava o que? Espera, eu te conheço?
-Brincávamos quando éramos pequenos! Jullie cabeça de abóbora! - ele riu meio sem jeito
-AH' NOSSA! - exclamei totalmente impressionada. Era ele! Era ele! - Justin cara de coelho! - Tive um ataque de risos. Era rídiculo! "Cabeça de abóbora?", "cara de coelho?", esse tipo de apelidos só poderia vim de crianças mesmo.
-Quando te vi, meio que pensei: "nossa, eu conheço ela". E depois eu fui me lembrando!
-Nossa, eu nem percebi! Caramba! Faz tanto tempo! - parei e fiquei olhando para o rosto dele
-É, mais de dez anos que e a gente não se vê! Você não voltou mais!
-Verdade! Ando me esforçando muito nos estudos para conseguir realizar meu sonho!
-E seria...?
-Fazer a faculdade no exterior! E graças aos meus esforços, sou a melhor aluna no inglês e eu vou viajar daqui a uma semana! - sorri vitoriosa
-UAL! - disse ele boquiaberto! - Você ainda quer ser cantora? - ele riu
-Não! - ri junto - Sonhos de crianças são assim mesmo! Quero ser estilista!
-Hum, interessante! Eu estou pensando em cursar arquitetura!
-Sempre foi sua cara. Você sempre foi muito bom nisso! Lembra dos nossos castelos de terra?
-Ah' claro, lembro sim! Você era a princesa, e eu o principe... - ele riu
-Nossa, Justin! Que saudades! - abracei ele. Não sei porque, tive vontade! Ele sempre foi meu melhor amiguinho! A maioria dos meus melhores momentos da infância foram com ele. E claro, fora a sensação gostosa de reencontrar uma pessoa tão especial, que eu havia esquecido! Eu realmente fui pega de surpresa dessa vez!
     Ficamos a noite inteira conversando. Até que os pais dele o chamaram.
-Minha mãe me ligou e disse para eu voltar! Vamos embora! - disse ele ainda com o celular na mão
-Sem problemas! Acho que também preciso voltar! - fiquei triste. Nunca mais iria vê-lo? - A gente vai se ver ou você já vai mesmo?
-Volto aqui amanhã!
-Que bom! - abracei ele novamente
     Passou uma semana, eu iria viajar hoje. Justin e eu, bem, meio que começamos um romance. Eu estava completamente apaixonada. Tanto que até havia pensado na possibilidade de deixar essa oportunidade e não viajar, para poder ficar com ele. Seriam cinco anos longe dele. Mas como eu não sou assim, não agi sem pensar. Anos e anos me esforçando para isso e desistir por causa de um amor? Se realmente for verdadeiro e tão intenso, irá esperar até eu voltar! Estava terminando de arrumar minhas malas. Deu o horário e meus pais me levaram para o aeroporto. Minha mãe deu um show de lágrimas, o que me fez chorar também e deixar meu pai emocionado. Mas enfim, isso acontece. Os filhos crescem e vão seguir seu caminho, mas eles sempre voltam, e eu tenho certeza de que voltarei.

-Nossa filhinha se foi! - disse chorando
-É querida, ela se foi, mas volta! - disse ele colocando o braço em volta da cintura dela
     Os pais de Jullie voltam para casa, e de repente, recebem uma visita inesperada.
-Justin? - disse Sophie assustada. - O que te traz aqui?
-Vim falar com a Jullie e deixar uma coisa para ela! - disse ele ofegante
-Oh! Sinto muito! Ela já partiu!
-Droga! - lágrimas começaram a aparecer. - Mas você tem o celular dela, alguma coisa?
-Não querido! O celular dela quebrou, mas quando ela comprar outro eu te passo!
-Obrigada Senhora, muito obrigada! Eu vou indo... - disse ele saindo. - Ah' fique com isso, entregue para ela apenas quando ela voltar, por favor! 
-Entrego sim! Tchau querido!
     Cinco anos se passaram,  eu estou formada! Sou famosa mundialmente por criar roupas fantásticas. Tenho uma rede de lojas no mundo todo e agora, estou voltando para casa. Ver meus pais, minha familia, meus amigos... Justin sumiu! Nunca mais me ligou, nunca mais soube nada dele! Ele deve ter seguido sua vida. É, então nosso amor não era tão forte assim como eu pensava. Ele me esqueceu! Nunca mais me procurou! Mas isso não vem ao caso! Eu estou feliz, tenho tudo o que sempre sonhei! Depois de algumas horas, finalmente havia chegado em casa!
-FILHA! - gritou minha mãe
-Oi mãe! Oi pai! Que saudades! - abracei os dois com toda a minha força
     Uma semana se passou, e eu estou trabalhando para trazer uma loja aqui perto de casa, para que eu possa trabalhar daqui! Vi que não conseguiria ficar longe deles tanto tempo assim. Estava no meu quarto, desenhando um vestido, quando minha mãe entra.
-Diga mamãe!
-Tenho uma coisa para te dar!
-Então me dê!
-Toma! - ela me entregou um envelope.
-O que é isso? - perguntei
-Nunca vai saber se não abrir! - ela piscou e saiu do quarto
     Me joguei na cama e abri o envelope. Tinha um papel rasgado de caderno dobrado. Abri e comecei a ler:
"Jullie, sabe que eu te amo demais né? Bom, então se você sabe, eu vou ficar bem! Ficaremos longe durante muito, muito tempo! Distância é o fim para quem tem coração! Mas não podemos fazer nada! A vida é assim, cada um segue seu caminho, mas se você realmente me ama, irá voltar! Me desculpe, não consegui encontrar nenhuma oportunidade para te ver, mas saiba, eu estarei te esperando. Você sabe, todos os momentos com você marcaram muito minha vida, principalmente os mais recentes. Ter passado essa semana com você foi maravilhoso. Descobri que a paixão que eu sentia por você quando tinha uns 7 anos não passaram. Eu ainda te amo! Muito mais que antes. Você é maravilhosa, e eu não consigo encontrar outras palavras para te descrever. Amor, acho que amor é bom, não é? Eu te amo Jullie, não se esqueça de mim! Quando você voltar, eu estarei aqui para passar o resto da minha vida ao seu lado. Eu te amo! Com carinho, Justin."
     Ao terminar de ler as palavras de Justin, eu percebi que estava chorando demais. Desci com a carta na mão.
-O que houve filha? - perguntou minha mãe assustada ao me ver chorando
-Olha mãe! - dei a carta para ela, que começou a ler junto com meu pai
-Ele não chegou a tempo... - disse ela após ler
-Droga! Pai, você ainda tem o telefone dos pais dele?
-Acho que sim! - disse ele procurando no celular. - Aqui!
-Ótimo! - peguei o celular da mão dele e subi correndo
     Meu coração estava a mil! Ligo ou não ligo? Ligo! Apertei no botão e começou a chamar. Eu estava com o coração na mão. Atendeu. Eu congelei!
-Alo?
-Quem fala? 
-Oi, aqui é a Jullie, filha da Sophie e do Ryan!
-Ah' minha nossa! Quanto tempo! É a Cath!
-Oi senhora Cath, o Justin está?
-Não, ele não está não! Ele tá no trabalho!
-E a senhora poderia me dizer aonde fica?
-Claro! - ela me deu o endereço e eu anotei
-Obrigada senhora Cath! Muito obrigada!
-Imagina! Mande lembranças para seus pais!
-Vou mandar! Obrigada!
     Peguei minha bolsa, enfiei o papel e a carta e sai correndo.
-Aonde vai minha filha? - perguntou minha mãe
-Atrás de Justin! Vou esclarecer tudo!
-Tome cuidado! - disse meu pai
     Peguei o carro e fui até o endereço. Era um prédio gigantesco. Respirei fundo e entrei.
-Quero falar com o Justin - disse para a recepcionista
-Com o senhor Justin? Precisa de horário marcado!
-Não, você não está entendendo! Eu preciso mesmo falar com ele!
-É o que todos falam, não podemos dar preferencias para ninguém!
-Mas... - avistei um homem, lindo, com terno e gravata. - JUSTIN! - gritei
     Ele me olhou e depois de um tempo, deve ter me reconhecido. Ele parou e ficou olhando para mim assustado.
-Lembra de mim Justin? - perguntei com alguma esperança. Eu mal conseguia falar. 
-Jullie?
-Sim, sou eu! 
-JULLIE! - ele veio correndo na minha direção e me abraçou super forte. Me levantou do chão, ainda me abraçando. 
-Justin! Precisamos conversar!
-Claro! Estava indo almoçar, venha comigo! 
-Sim!
     Fomos até um restaurante. Fizemos nossos pedidos e eu comecei a falar.
-Me desculpe, eu parti antes e não recebi sua carta!
-Eu que devo desculpas! Cheguei tarde demais, e depois, comecei a pegar pesado nos estudos para chegar aonde estou hoje! Ligava algumas vezes para ter notícias suas, mas seus pais nunca sabiam me informar seu telefone, o que é estranho! - ele riu
-Eu sempre liguei de vários lugares e nunca deixei nenhum dos meus contatos, perdão!
-Pare de se perdoar, você está aqui! É isso o que importa!
-É, eu preciso exclarecer umas coisas!
-Diga!
-Eu... eu não sei como falar! - respirei fundo. - Acontece que, durante todos esses anos, eu não consegui me esquecer de você!
-Eu também não, Jullie! Você viu minha carta?
-Vi sim!
-Então, tudo o que está escrita nela é verdade!
-Ah' nossa, que bom! Obrigada Justin!
      Depois desse almoço, começamos a namorar. Cada vez mais firme. Ele iria desenhar a minha loja aqui, o que é maravilhoso. Ele era muito bem sucedido, assim como eu. Viveríamos bem. Acontece que, não importa quanto tempo se passa, se o amor é verdadeiro, permanece. E assim iremos viver para sempre, eu espero, eu, Justin, um cachorro e nossos filhos!

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